segunda-feira, 3 de novembro de 2008

COm Nara Limeira - danças circulares

João Pessoa, 28 de fevereiro de 2008.

Calina,

Aqui estão as respostas que pude formular, na correria, como sempre.

CALINA: Mesmo tendo sido criada por um alemão, e só quase 10 anos depois que ela veio a chegar aqui no Brasil, as danças circulares aqui se aproximam muito das nossas expressões populares, como a ciranda e o próprio coco de roda.


A história mostra que as DC foram criadas pelo alemão, o Bernard Wosien, em meados do século passado. Porém, é importante que compreendamos o termo a fim de que possamos entender como e porquê as nossas danças, expressões populares brasileiras estão inseridas neste contexto.
Bernard Wosien foi o bailarino e coreógrafo que sistematizou as danças, colhidas de várias culturas e tradições religiosas e passou a utilizá-las com a finalidade de meditação. Os resultados foram surpreendentes de tal modo que a experiência cresceu e hoje está espalhada pelo mundo inteiro, sob várias vertentes. Por exemplo, quando falamos em DC, pensamos rapidamente em 3 linhas de atuação: Danças da Paz Universal, Danças Sagradas e Danças dos Povos. Todas com o propósito de reunir pessoas para dançar circularmente.

As Danças da Paz Universal têm uma proposta de reunir diferentes tradições religiosas, sem disputa política e a favor da paz. Nelas, as canções são executadas e cantadas ao vivo. Geralmente o focalizador entoa um cântico e os dançarinos respondem com um refrão enquanto dançam.

As Danças Sagradas tem um propósito parecido, sendo que com músicas gravadas e experiências ao ar livre, em contato com a natureza, aproveitando lugares calmos, como matas com rios e lugares longe da agitação urbana. É o pouco que conheço. Sei que no Brasil tem um encontro anual, na Chapada Diamantina, na Bahia (salvo engano).

As Danças dos Povos, chamadas simplesmente de Danças Circulares, englobam as danças étnicas, que são coreografadas especialmente para as rodas que aproveitam a música popular e expressões de cada país. E podem, eventualmente passar pela experiência (que na verdade se entrecruzam) das Danças da Paz Universal e das Danças Sagradas.
Todas elas têm um repertório imenso e centenas de focalizadores (que são os professores e estudiosos do tema, as pessoas que organizam e orientam as rodas de dança) espalhados pelo mundo inteiro. É aí que entram as nossas expressões populares, porque cada país vai conhecendo e adaptando, levando suas danças para as rodas de Danças Circulares. Na verdade as DC não se aproximam da ciranda e do coco, e sim, a ciranda e o coco SÃO danças de roda e, por isso são levadas para as rodas de Danças Circulares.

CALINA- Como as danças circulares começaram aqui na Paraíba?0

Em 2005, um grupo de mulheres daqui se deslocou até Recife para participar de um curso de formação com o professor (e nosso mestre) William Valle, de Belo Horizonte. Neste grupo estavam Cida Caetano, Ana Emilia Antas, Eleonora Montenegro, Roberta Miranda e outras. Em seguida, trouxeram o professor para um workshop de final de semana aqui. As educadoras Amélia Nóbrega e Maria Dea participaram deste workshop e imediatamente formaram o grupo dos Bancários (no nosso bairro). Em seguida foi formado por Cida Caetano e Eleonora Montenegro, o grupo na UFPB. Foi neste período que começou o movimento aqui em João Pessoa. Antes disso, porém, algumas pessoas já tinham participado em Campina Grande de experiências no encontro da Nova Consciência. Mas não de forma sistemática, e sim uma experiência dentro do evento. Depois disso, dezenas de pessoas saíram para cursos de formação em Recife, como também participaram de cursos aqui em João Pessoa e workshops e Encontros fora do Estado.

CALINA: O que ela representa no dia a dia da pessoa que a pratica?

Acho que cada pessoa processa de uma forma. Eu costumo pensar que a humanidade evoluiu muito em termos tecnológicos, mas nas questões humanísticas ainda temos muito o que caminhar. Pelo que sabemos, o homem dança em círculos desde civilizações muito antigas e, mesmo com estes avanços tecnológicos, o homem continua sentindo esta mesma necessidade: dançar de mãos dadas. Isto parece ser a própria expressão da vida. Quando vivemos na correria do cotidiano, convivemos com a violência urbana e com vários outros fatores que afetam o nosso bem estar, as DC parecem se insurgir como contraponto a tudo isso, como uma retomada da nossa essência humana. Em princípio, um pretexto para reunir pessoas, promover o encontro, possibilitar que se olhem, toquem (e segurem as mãos), conversem e dancem para celebrar a vida.
As DC têm uma proposta inclusiva e, com isso, elas proporcionam a possibilidade de que todos sejam, naquele momento, dançarinos. A força do círculo é muito intensa e dá a sensação de compartilhamento de emoções, sensações e angústias entre o grupo, o que certamente o fortalece no geral e a cada um dos participantes.

CALINA - quantas pessoas praticam danças circulares aqui na paraíba? desde quando?

Não sei precisar, porque não consigo acompanhar a evolução em Campina Grande e outras cidades do Estado, mas já contei como chegou aqui e como conheci as DC no grupo dos Bancários.

CALINA - vc pratica desde quando? porque começou? que diferenças vc nota em si mesma? o que vc sugere para quem nunca praticou?

Eu pratico desde 2005 quando foi formado o grupo dos Bancários. Depois disso eu saí para fazer formação em Recife, com o nosso mestre William Valle. Iniciei porque fui encantada pelas pessoas que estavam participando daquela roda, fui para conhecer e não saí mais. O grupo dos Bancários funcionou em várias casas de moradores aqui do bairro e, depois de algumas paradas, retomou este ano na Associação dos Moradores dos Bancários (AMCBU), aos sábados, das 16 às 18 h, com força total. A participação é gratuita e o grupo está aberto a participantes de todas as idades (e de todos os bairros também).
As DC são fonte de conhecimento sobre nós mesmos e sobre outros povos e culturas. Ajudam-me a enfrentar as adversidades de vida, os problemas cotidianos. Colaboram para a minha reelaboração o meu ser e estar no mundo e, com isso, repenso os espaços que ocupo, as doações que faço, a flexibilidade (ou falta dela), enfim. Contribuem para destravar e reconhecer a afetividade como fator de interdependência entre as pessoas. No círculo, diluem-se as hierarquias e todos são iguais, todos se ajudam para fazer a roda girar em harmonia. O movimento do círculo é o próprio movimento da vida com sua infinidade de símbolos.
Além disso, dançar mexe com o corpo, produz endorfina. É uma experiência de muito prazer.
Para quem nunca praticou, sugiro que experimente, permita-se.


INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

Ressalto que, atualmente, existem dois grupos regulares em João Pessoa:

Na UFPB, no Ginásio de Ginástica, às quartas-feiras, das 15 às 17 h. Aberto ao público, participação gratuita;

Na Associação dos Moradores dos Bancários (AMCBU), aos sábados, das 16 às 18 h. Aberto ao público, participação gratuita;


NOVOS FOCALIZADORES / COREÓGRAFOS

Nestes grupos existem várias pessoas com formação em DC que se revezam na condução dos mesmos. Nos Bancários, tem um focalizador de 14 anos de idade que tem se revelado um pesquisador na área, inclusive com elaboração de coreografias próprias.

EXPERIÊNCIA NAS ESCOLAS

Existem experiências nas escolas públicas municipais, dentro do programa ‘Ciranda Curricular’. Sobre isto, você pode falar com Ailza Freitas, na Séc. de Educação da PMJP;

ENCONTROS PELO PAÍS E MUNDO AFORA

Os grupos do Recife já organizaram 2 Encontros Nordestino de DC. A Paraíba foi representada por nós (desses 2 grupos citados), para o qual levamos a coreografia de um coco de roda. Nestes encontros tivemos participantes do NE e de todo o país.

No ano passado, participamos do Festival de Outono, em Curitiba-PR. Este ano, estamos programando novamente a participação no Festival de Outono, que será em maio, no RS.

PARA FALAR COM OUTRAS PESSOAS

Sugiro vc pedir a opinião de outros participantes, para sair do meu foco, minha visão estreita e unilateral. Vou lhe passar uma listinha e vc tenta ligar, fala em meu nome, ta?

-Maurise (arte educadora e artista plástica): 8839-3849;
- Roberto Freire (historiador e advogado): 9983-4671;
- Silvia Clara (educadora) 8896-4836 / 3235-5834;
- Amélia Nóbrega ( arte educadora) : 3235-1768 / 8833-9111;
- Gustavo Limeira (estudante) : 8885-0155;
- Maria Dea (arte-educadora): 8875-6166;
- Cida Caetano (prof. Ufpb): 9927-9701 / 3222-6147;
- Raquel (advogada): 8875-6176;

- William Valle (MG) 31-9155-2000 / 2127-2914


Boa sorte, Calina! Espero que as informações sejam uma boa contribuição.
Qualquer coisa, ligue. Quero saber quando vai sair a matéria, por favor, me avise.
Bjs,
Nara

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